sábado, 19 de fevereiro de 2011

Estudantes protestam contra aumento de mensalidades (09/11/2005)



Por Carmen Azevêdo
Indignação. Este foi o sentimento que marcou as manifestações que aconteceram ontem em todo o país, inclusive em Salvador. Aqui, estudantes e funcionários de faculdades e universidades expressaram o descontentamento pelo aumento das mensalidades e pela falta de atenção a alunos, funcionários e professores. As manifestações fizeram parte do Dia Nacional de Luta pela Redução das Mensalidades, promovido pela União Nacional dos Estudantes (UNE).
Na Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), um aglomerado de estudantes, professores e funcionários, junto a um carro de som, portavam faixas e se mobilizavam em frente à entrada principal da instituição. Enquanto isso, uma patrulha da Polícia Militar encontrava-se em um ponto estratégico da Avenida Paralela, em frente à faculdade, acompanhando o movimento.
Segundo o presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da instituição, André Fraga, as mensalidades dos cursos foram reajustadas sem aviso prévio. O valor varia a depender do curso: a mensalidade anterior ficava entre R$670 e R$2.500; com o reajuste, o valor passa a variar entre R$700 e R$2.800. Eles antecipam o reajuste desde já, se o aluno pagar antes de começar o semestre, tem um desconto de até 18%. O que nós estamos pretendendo é pagar o valor em juízo - pagamento feito ao Ministério Público - e ele mesmo resolve se devolve o dinheiro ou se vai repassar para a mantenedora, a Sociedade Mantenedora da Educação da Bahia (Somesb), que mantém as unidades da FTC de Feira de Santana, Itabuna e Salvador, informou.
Até agora dois requerimentos feitos pelos estudantes foram entregues à administração na semana passada. O que nós queremos é uma planilha de custos para justificar o reajuste e implementar uma comissão para negociar a mensalidade; mas até agora não tivemos nenhuma resposta, afirmou o presidente do DCE.
O aluno do curso de jornalismo, George Wandega, relatou que muitos estudantes que pagaram as mensalidades com os valores reajustados procuram as coordenações, mas não recebem nenhum retorno. A faculdade faz propaganda em horário nobre e nós temos que arcar com isso. Não sei se vão devolver o dinheiro, mas pelo menos podem reduzir as mensalidades, disse.
Funcionários - Mas não só os estudantes manifestaram sua insatisfação. Antigos e atuais funcionários da faculdade também estavam presentes. Segundo o coordenador do Sindicato dos Auxiliares em Administração Escolar do Ensino Superior das Instituições Privadas do Estado da Bahia (Sinaães), Cláudio Eduardo dos Santos, há desvios de funções, descumprimento da leis trabalhistas e dois funcionários foram demitidos no dia 3 de outubro por fazerem parte do sindicato da categoria: Janilson Lopes da Silva e Sérgio Luis de Souza. Além disso, 25 companheiros foram ameaçados de demissão devido ao desaparecimento de um equipamento multimídia, frisou com indignação.
Ele contou que se tratava da segunda mobilização da categoria que envolvia ainda outros motivos para ser feita: corte do plano de saúde dos funcionários, atraso de salários e tíquetes-refeição (os últimos não são pagos desde dezembro), o pagamento do vale-transporte em doses homeopáticas. Hoje eles dão o transporte para gente vir amanhã e muitas vezes ameaçam o funcionário de demissão se faltar, acrescentou.
Sindicato quer ampliar filiados O diretor de imprensa do Sindicato dos Auxiliares em Administração Escolar do Ensino Superior das Instituições Privadas do Estado da Bahia, Luis Antônio Vieira, faz um apelo aos funcionários de outras instituições de ensino superior particulares para que se filiem. A FTC não é a única instituição com essas denúncias, já recebemos outras também. ? importante que a categoria se una para uma maior conscientização e exigência de direitos, declarou.
O presidente da Associação de Professores da Faculdade, Davi Santana, disse que a agenda de reuniões entre os professores e a Somesb está sendo negligenciada pela mantenedora. Seriam oito a nove reuniões, mas até agora só foram realizadas duas no final de setembro. As outras foram suspensas pela dificuldade na agenda de Samuel Soares, o gerente executivo da Somesb, afirmou.
Ainda segundo ele, a pauta dos professores tinha como principais reivindicações a regularização do FGTS, a estabilidade para diretores da associação, reajuste salarial (cujo teto está em processo de discussão) e a recuperação das perdas salariais com base na inflação do período.
A assessoria de imprensa da FTC informou que uma reunião envolvendo a superintendência da mantenedora e os estudantes estava prevista para acontecer ontem à tarde, por volta das 15h, mas foi desmarcada pelos estudantes. Declarou também que a Somesb solicitou aos alunos, no dia 21 de outubro, algumas alterações nos requerimentos entregues, mas não teve retorno. Além disso, informou que o pagamento do FGTS e do salário está em dia e que não houve demissão de funcionários por motivo de participação sindical.
PROJETO Os protestos aconteceram em várias capitais brasileiras e a programação incluiu a ocupação do Congresso Nacional por estudantes no final da manhã. O objetivo era entregar um novo projeto de Lei das Mensalidades. A proposta inclui a negociação de reajuste da mensalidade com base em planilhas de custo; uma comissão formada por pais, alunos, funcionários e representantes das instituições; a fixação do prazo de três meses para o anúncio do aumento das mensalidades, ao invés dos 40 dias exigidos atualmente; a garantia da qualidade do ensino, com um mínimo exigido de professores, mestres e doutores; investimentos em ciência e tecnologia; e o estudo da demanda de cursos necessários em cada uma das regiões. Parte das reivindicações faz parte deste projeto e outra, da proposta de Reforma Universitária.

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